Línguas para que te quero
Aprender uma nova língua é necessidade dos tempos modernos. Mas a sedução é o ponto chave para manter o estímulo do aluno.
Com o fim das barreiras comerciais no início da década de 90, muitos produtos invadiram o mercado nacional, principalmente os norte-americanos. Os produtos trouxeram a língua inglesa com ele, causando abusos no dia-a-dia, tanto que esses abusos fizeram o deputado federal Aldo Rebelo (PC do B - SP), em 1999, elaborar um projeto de lei para diminuir o alto índice de vocábulos estrangeiros no nosso dia-a-dia intitulado "Movimento Nacional de Defesa da Língua Portuguesa". Esse projeto de lei do deputado não foi aprovado.
É notória essa substituição nos diversos estabelecimentos comerciais da cidade, onde delivery (entrega), breakfast (café da manhã), entre outras, viraram sons comuns aos olhos e ouvidos.
Porém as línguas estrangeiras viraram atributo essencial para se conquistar uma vaga no concorrido mercado de trabalho. E não basta apenas saber inglês - dependendo do emprego almejado - para se diferenciar de outro concorrente, afinal, o contato das empresas pode ir da Europa ao Japão, do Oriente Médio à África, ou mesmo ficar no Mercosul.
As crianças também tiveram novas exigências com os tempos modernos e os brinquedos eletrônicos. Um mínimo de conhecimento de outra língua é obrigatório para brincar no vídeo game ou com o 'boneco espacial', e o computador, já incorporado ao pacote de eletrodomésticos, baseia seus conceitos na língua anglo-saxão.
Mesmo com todas as transformações no mundo e as facilidades de aprender uma nova língua como o inglês, as pessoas continuam tendo dificuldades e complicações para esse aprendizado.
Sem ansiedade e com segurança - Vivian Magalhães, co-autora com Vanessa Amorim do livro "Cem Aulas Sem Tédio", bacharel em jornalismo pela PUC/RS e com complementação pedagógica para o ensino de inglês pela UFRGS, diz que o maior problema para o aprendizado é o medo do aluno de dizer bobagem ou não pronunciar alguma coisa direito. "Em primeiro lugar, desenvolver uma atmosfera de amizade em sala de aula, onde as pessoas se sintam à vontade para falar, errar, cantar, perguntar, é fundamental. Se os alunos se sentem à vontade no grupo, costumam lidar com essas situações numa boa e até se divertir com elas", conta Vivian.
O diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da escola Yázigi Internexus, Francisco Ferreira, ratifica e completa: "A ansiedade e a insegurança das pessoas podem ser reduzidas. Vamos a alguns exemplos de coisas que o professor deve fazer: apresentar os conteúdos de forma significativa, não corrigir o aluno toda a vez que ele comete um erro, dar tempo suficiente de prática em pares ou grupos menores antes de expor o aluno à classe como um todo, nunca pressupor que o aluno entendeu alguma coisa, dar orientação e atenção individualizadas. Mais importante ainda é dar oportunidades concretas ao aluno de usar o que ele aprendeu, para gerar uma real percepção de aprendizagem."
O desenvolvimento da tecnologia e os recursos proporcionados por eles ajudam o professor a evitar as aulas enfadonhas e tradicionais. Recursos como a internet, CD-Roms, DVD, entre outros, ajudam a trabalhar o imaginário dos alunos. "Nada contra giz e quadro negro, mas o professor que quiser cativar os alunos vai ter que saber utilizar também as novas tecnologias, que são muito mais interativas. É importante deixar o ensino demasiadamente tradicional onde ele pertence, ou seja, em algum lugar lá do século passado", explica Vivian.
A dedicação, disciplina e motivação para se estudar uma nova língua são fundamentais. É preciso ter em mente, também, que esse aprendizado não é um sacrifício. O professor Michael Jacobs, conta Vivian, escritor do livro "Como (não) aprender inglês", estima que uma pessoa precise, em média, 800 horas de estudo para aprender o idioma com alguma fluência. Ela enfatiza: "já tenho maiores restrições em ditar um número redondo como esse." Já para Francisco Ferreira, do Yázigi, disponibilizando 6 horas semanais (programa cumprido em 2 anos de forma intensiva, que exige maior gasto de dinheiro do que um curso normal) o aluno chegará ao nível avançado.
Pela web - A internet também pode auxiliar no aprendizado de outras línguas. Entretanto, ela encontra obstáculos para se firmar. Como mantenedora do site Língua Estrangeira (www.linguaestrangeira.pro.br), voltado para professores, Vivian acha ótima a internet para as pessoas que possuem boa noção da língua, ou como apoio aos cursos presenciais: " À medida que se vai ficando mais velho, os círculos de amizade vão encolhendo, então não vejo vantagem em trocar uma oportunidade de interação com outras pessoas pelo estudo solitário em frente ao computador."
O Yázigi mantém na internet um site (www.houseofenglish.com.br) que dialoga com seus alunos, dando suporte com atividades interativas, sistemas de monitoramento do desempenho do aluno, apoio do professor online e espaço para comunicação autêntica. "A nossa experiência tem demonstrado que a combinação entre sala de aula e trabalho individual na internet é o melhor caminho", enfatiza Francisco Ferreira.
Para o mercado de trabalho - O mercado de trabalho, preocupação tanto para os jovens que estão na iminência de ingressar quanto para os adultos ingressos, não foge da comparação de currículos na hora de definir uma vaga, principalmente quando dois pretensos candidatos ficam para a última disputa. "Nesse momento, uma segunda língua estrangeira pode ser um fator decisivo de desempate", argumenta Vivian. E completa: "além de um excelente exercício de memória e raciocínio, o estudo de um novo idioma amplia os horizontes das pessoas."
Francisco Ferreira não acredita na possibilidade de outras línguas se tornarem predominantes. Diz ele: "o inglês será cada vez mais usado por pessoas das mais variadas nacionalidades. É importante que o profissional domine outra língua além do inglês - e a escolha dessa terceira língua depende do contexto onde o profissional está inserido -, mas não saber inglês é fator de exclusão do mercado de trabalho."
Futuro - As novas tecnologias já dispuseram no mercado tradutores de todas as línguas, que apóiam e socorrem em casos de emergência. Esse sistema ainda é carente de recursos, fraco de conteúdo e necessita de muito avanço para substituir os professores no aprendizado de uma língua. Contando sua experiência pessoal, Francisco Ferreira é cético quanto a essa substituição da comunicação para a interpretação e negociação de significados. "Todos os programas de tradução que eu testei, pessoalmente, geraram traduções ou versões absurdas, simplesmente porque não conseguem analisar palavras dentro de um contexto e, portanto, não conseguem definir o que é adequado e significativo para aquela finalidade comunicativa. Eles precisam melhorar muito."
" Acho que pelo menos até o fim dos meus dias o meu emprego está garantido", brinca Vivian.
Por Márcio Kroehn (
mfkrohen@uol.com.br) Márcio é estudante de joralismo na Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo.
http://www.linguaestrangeira.pro.br/artigos_papers/linguas_quero.htm